segunda-feira, 19 de março de 2018

Koe no Katachi


Em 2016, em meio ao sucesso estrondoso de Kimi no Na wa (Your Name), foi lançado um filme de anime que sorrateiramente foi ganhando o coração de todos aqueles que o assistiam. Seu nome é Koe no Katachi (A Silent Voice, em inglês). Eu venho falando dele há um tempo nas redes sociais, o elogiando, o indicando a amigos e expressando minha decepção com a falta de tato da Academia em não selecioná-lo para concorrer ao Oscar de Melhor Animação. Acontece que, na realidade, eu fiz isso sem tê-lo assistido.

O longa-metragem foi dirigido pela Naoko Yamada, moça essa que dirigiu K-ON! e que teve seu trabalho amplamente apreciado por minha pessoa neste texto aqui. O estúdio que o produziu foi a Kyoto Animation, o qual venho assistindo todos os seus trabalhos e escrevendo aqui no blog. É seguro dizer que criei uma confiança tão grande nessa diretora e nesse estúdio que eu pude falar do filme sem nem tê-lo assistido, pois tinha certeza de que seria uma obra linda, sensível e emocionante.



HISTÓRIA

O filme abre ao som de The Who, com uma montagem – lindamente sincronizada à música – de um grupo de crianças curtindo a vida de forma irreverente, como se fossem os donos do pedaço. É assim que se sente o Shouya Ishida, um garotinho folgado que adora praticar bullying nos outros para se sentir especial e se destacar na escola.


Em um fatídico dia de sua vida, uma nova aluna, Shouko Nishimiya, é transferida para a sua classe. Ela sim é especial, no sentido literal da palavra, pois é surda. Pensou que isso impediria o garoto rebelde de torná-la um alvo? Muito pelo contrário. O fato dela ser diferente apenas intensificou o nível das maldades, chegando a jogar seus aparelhos auditivos fora, gritar com força do lado de sua orelha e até mesmo a fazer seu ouvido sangrar.


Apesar da classe ser conivente com suas ações e praticar bullying com a garota a um nível menor, não demora muito para que isso chame a atenção da diretoria. Ishida tenta expor como outros alunos e alunas também não gostavam da Nishimiya, mas todos se voltam contra ele e a culpa cai exclusivamente em suas costas, além de se tornar o novo alvo de bullying por ter dedurado seus colegas. Revoltado, ele continua a atormentar a pobre deficiente, até que isso culmina na transferência da mesma para outra escola. Ishida é deixado para trás, sem ter em quem descontar sua raiva, sem amizades e sem moral alguma na escola.


Os anos se passaram e Ishida, no ensino médio, se tornou um recluso social. Um forte sentimento de arrependimento o assola devido às suas ações quando criança, o que o leva a tentar se redimir de seus erros com a Shouko, mas as feridas psicológicas que o marcaram são tão intensas que ele não sabe se tem o direito disso. Até pensa em se matar. Em sua busca por aceitação, nos são apresentadas as vidas de outras pessoas com quem convive, todas com seus problemas pessoais, como o Tomohiro Nagatsuka, amigo solitário do Ishida; a Naoka Ueno, amiga de infância e parceira de bullying; a Miki Kawai, colega de classe egocêntrica; a mãe do Ishida, atormentada pelas ações do filho; a Miyoko Sahara, uma das poucas garotas que se importava com a Nishimiya no fundamental; a Yuzuru Nishimiya, irmã da garota surda, e claro, a própria Shouko, que carrega o maior fardo de todos.


REALIDADE E PROBLEMAS PESSOAIS

Koe no Katachi é um trabalho cujo resultado poderia ser negativo se estivesse nas mãos erradas. Por se tratar de um conteúdo delicado, qualquer decisão mal pensada de narrativa e de direção resultaria em uma representação negativa dos temas tratados. Porém, a Naoko Yamada é uma diretora habituada em humanizar seus personagens de forma sensível e delicada. Isso permitiu que ela entregasse um produto que não superdramatiza assuntos sérios como bullying, depressão e suicídio.

Todos os personagens têm seus conflitos internos e problemas de personalidade, os quais são abordados de uma maneira que você consiga se familiarizar com todos eles, mesmo que se identifique ou não. A roteirista é a Reiko Yoshida, que também trabalhou em K-ON! (meu review) e Tamako Love Story (meu review). Apesar desses dois trabalhos contarem com um roteiro que nos aproxima intimamente dos personagens, são obras tematicamente mais leves. A Silent Voice trata de temas pesados, mas a competência da Yoshida fez com que ela conseguisse trazer a leveza de seus trabalhos anteriores para este, com um roteiro que impacta, mas não sufoca o telespectador.


Eu gosto do tratamento que o roteiro dá à Shouko. Apesar de ser deficiente, o filme não a mostra como debilitada, incapacitada. Ela sempre dá o máximo de si para interagir com os outros como uma pessoa normal e procura não dar problema a eles, porque é isso que Koe no Katachi tenta nos mostrar – pessoas surdas também são pessoas normais. E é incrível como ela é retratada como alguém forte, que não se deixa mostrar abatida em meio a tantas adversidades que é submetida, especialmente durante seus dias no ensino fundamental.


Mas é claro que a obra também dá ênfase às dificuldades de se viver com essa deficiência. Além dos problemas de comunicação e relacionamento, principalmente ao que se refere à visão que os outros têm dela, nós vemos como o seu psicológico é abalado. A Shouko está sempre com um sorriso no rosto quando está acompanhada de alguém, mas isso não passa de uma máscara para esconder seus verdadeiros sentimentos. Chega a apertar o meu coração imaginar o que se passava dentro de sua cabeça durante os dias que sofreu bullying quando criança.


É notável que todos que convivem com a Shouko têm problemas em decorrência disso. Se o Ishida já não fosse um exemplo, também temos a irmã da garota, Yuzuru. De tanto se preocupar com sua irmã mais velha e tentar protege-la, ela desenvolveu uma certa apatia por outras pessoas, especialmente por aquelas que a maltrataram no passado. Ela tem uma personalidade tomboy, ou seja, age como se fosse um menino, talvez como forma de mascarar a fragilidade interna que a preocupação constante com sua irmã ocasiona. Ver o sofrimento que a Shouko passa fez com que a Yuzuru se tornasse um tanto insensível. Isso se reflete na abordagem que encontrou para tentar impedir que sua irmã pensasse em se suicidar, ao tirar fotos duras de animais mortos e espalhá-las pela casa.



Uma personagem que não muda com o passar dos anos é a Ueno. Ao se reencontrar com o Ishida e a Nishimiya, ela continua agindo como se ainda estivesse no fundamental. Antes desse reencontro, eu até pensei "será que ela vai ter mudado assim como todos os outros? Não sei se seria muito realista, pois a personalidade dela parece ser de alguém cabeça-dura que não aceita mudanças". Com isso pude ver duas qualidade do filme: 1) o fato de sua atitude continuar a mesma se ateve a uma realidade do nosso mundo, onde nem todo mundo age com boas intenções, e 2) consegui julgar como a personagem se comportaria nesse momento por meio de pouquíssimos trechos em que ela é mostrada antes disso, os quais entregam a sua personalidade.


O mais interessante é como o filme não a retrata como uma vilã, como alguém que você precise sentir raiva. As ações dela parecem ser de alguém que apenas pensa em si mesma, que não aceita mudanças e quer que tudo volte como era antes. Ela faz coisas horríveis com a Shouko, pois foi essa quem ocasionou tais mudanças. Mas tudo ao seu redor está em transformação, exceto ela. Ao longo do filme, vemos como lida com isso fazendo uso de abordagens duvidosas, como a conversa odiosa que tem com a Shouko na roda gigante e quando a ignora diversos dias na saída do hospital.


Porém, essa foi a maneira dela de tentar andar em direção à mudança. Suas ações podem não terem sido as mais corretas, mas ela queria que a Shouko se tornasse uma pessoa mais forte para melhorar a convivência com as suas amizades. O culmino de sua transformação se dá quando ela aprende a falar "idiota" em linguagem de sinais, mostrando um esforço de sua parte em conseguir se comunicar melhor com a garota surda. Através da Ueno, o filme retrata como más intenções às vezes são reflexos de uma confusão interna e que até pessoas assim podem mudar se estiverem rodeadas por companhias com boas intenções.


Acho que essa seção é perfeita para um relato pessoal meu. Isso é algo que compartilhei com poucas pessoas, porque é vergonhoso, então não entrarei em detalhes muito abrangentes. O fato é que eu não era uma boa pessoa em 2013, durante meu último ano do ensino médio. Era um cara tóxico. Acho que não existe expressão melhor para descrever minhas ações do que "só fazia merda". Eu fazia tanta merda que isso resultou em minha expulsão da escola em que estudava, faltando menos de um mês para acabar o ano letivo. O problema é que essas merdas que eu fazia não diziam respeito só a mim, mas também envolviam outras pessoas, das quais algumas nem me conheciam direito. Uma das coisas que fiz – o principal motivo de minha expulsão – foi tão grave que causou um alvoroço entre todas as classes do 3º ano e, antes de ir embora, tive que passar em cada uma delas me desculpando pelo que fiz.

Não preciso nem dizer que eu fiquei mal visto na escola inteira. Fui até ameaçado. Ao assistir Koe no Katachi, consegui enxergar uma realidade que por pouco não se tornou a minha. O Ishida "fazia muita merda" e acabou sem amizades, mal visto na escola e maltratado por aqueles que não gostavam dele. Eu dei sorte de ter sido expulso no fim do ensino médio, porque logo em seguida fui para a faculdade e deixei para trás os problemas que causei, sem espaço para mais repercussão. Mas e se isso tivesse acontecido antes e eu ainda tivesse que continuar na escola? Tenho certeza que eu me tornaria um Ishida e sofreria as consequências das minhas ações inconsequentes.


ARTE

Ao saber que a KyoAni produziria uma adaptação do mangá que deu origem ao filme, a Yamada logo se prontificou a dirigir. Ela ainda não havia lido a obra, mas sabia que era algo feito para ela. É um trabalho com foco em sentimentos e relações humanas problemáticas. Ela era a pessoa mais apta a transpor toda essa humanidade para uma animação. Ao unir o roteiro da Yoshida com a direção da Yamada, dois trabalhos repletos de delicadeza, essa combinação resultou em um filme que puxa cada corda do coração.


Acho que cheguei a um ponto que fica difícil de elogiar a maestria da Yamada sem parecer redundante. Seu trabalho é tão consistente em todas as obras que participa que é impossível de eu não repetir suas qualidades em cada texto que escrevo. Tudo que me fascinou em seus trabalhos anteriores também se encontra em peso neste filme – atenção minuciosa a pequenos movimentos faciais e corporais, enquadramentos que exploram o cenário para nos ambientar na cena e a sutileza com que as situações são representadas. Seu trabalho aqui é de tamanha beleza e sensibilidade que às vezes eu simplesmente lacrimejava apenas pelo quão lindo era um determinado plano.




Mas o papel da diretora em comunicar emoções por meio do visual é mais crucial do que nunca neste filme, pois ele trata daquilo que não pode ser expressado em palavras. A personagem principal é uma menina surda, então ela apenas consegue se comunicar por meio de linguagem corporal, seja fazendo sinais com as mãos ou expressões faciais. Mas isso não é reservado só a ela. Todos os personagens guardam sentimentos que vão além do que as palavras podem comunicar. Fica ao cargo dos inúmeros planos – sejam eles detalhes ou gerais – em leves movimentos de qualquer parte do corpo nos transmitir estes sentimentos tão intrínsecos.



Um aspecto particular da arte que me fascina são os olhos. Se você leu outros textos meus, como os de Little Witch Academia e Miss Kobayashi's Dragon Maid, deve ter percebido como tenho uma fixação por olhos. Acho que um olhar consegue transmitir emoções e sentimentos de uma maneira que nenhum outro membro do corpo humano consegue. Ao juntar olhares expressivos com a direção da Yamada que explora linguagem corporal em demasia, temos um trabalho que poderia ser mudo e ainda assim seríamos capazes de sentir tudo o que está sendo mostrado.

Os olhos em Koe no Katachi comunicam um bocado a respeito de seus personagens. O filme dá ênfase ao ato de olhar. Os dois pares de olhos que mais me chamam a atenção são os da Yuzuru e da Ueno. Apesar delas terem personalidades diferentes, as duas passam por um momento em que vivem em função de um objetivo aparentemente inalcançável, o que causa constante infelicidade em suas vidas. Isso se reflete em seus olhares "sem vida" que, mesmo quando estão conversando em tom de felicidade, é possível enxergar uma preocupação interna estampada em seus rostos.



O olhar do Ishida, por sua vez, comunica uma falta de comunicação e insegurança. Diferente do design dos outros olhos do filme, os seus têm uma bolinha minúscula em meio a área branca enorme, quase como se fosse algo insignificante dentro de um ambiente enorme, que é como o garoto se vê diante do mundo. É dado um destaque enorme para seus constantes desvios de olhar, evitando entrar em contato com o rosto de outras pessoas, até mesmo com aqueles próximos de si. Todos ao seu redor são representados com um X em seus rostos, como se ele os visse como pessoas incompatíveis.


O olhar da Shouko me passa uma sensação de conforto e inocência. Ela olha para os outros com um olhar que transmite uma mensagem de "está tudo bem, vai dar tudo certo, não se preocupe". É isso que quer que os outros pensem ao seu respeito, que não se preocupem com ela. Mas esse é um olhar fingido, pois no fundo as coisas estão longe de ser aquilo que seus olhos comunicam. A garota quer que os outros não a enxerguem como um estorvo, mas ela própria se vê como um. O olhar dela passa a ser melancólico quando você se dá conta isso.


Agora, existe um tópico um tanto controverso que preciso falar a respeito. Koe no Katachi é uma adaptação de um mangá do mesmo nome e, assim como todas as adaptações de mangá existentes, algumas pessoas ficam falando como a obra original é melhor. Eu ainda não li, mas acho essa comparação injusta. Certamente o mangá conta uma história maior e mais completa, afinal, estamos falando de um conteúdo de 7 volumes com 190 páginas cada contra um filme de 120 minutos. Para fins comparativos, a adaptação de Nausicaä do Vale do Vento, com 2 horas de duração, cobre apenas um volume e meio do mangá, então não faz sentido compará-los porque é óbvio que a história precisa ser adaptada para contar um começo, meio e fim em menos tempo.


Você deve estar pensando "beleza, mas por quê isso está na seção ARTE?". Porque é aí que entra a grande diferença do filme em relação ao mangá – o audiovisual. O mangá pode contar uma história maior, mais detalhada e até mesmo mais envolvente, mas ele está preso a fazer isso apenas com imagens estáticas em preto e branco. No anime, temos todo o trabalho artístico exuberante que descrevi acima. O que é omitido em relação à história é compensado por imagens, movimentos e sons que encantam, emocionam e transmitem toda a gama de sentimentos abordados na produção. Falando em sons...

ÁUDIO

Eu não estava pensando em falar a respeito da trilha sonora. Eu notei a presença das composições, especialmente em trechos que exploram distorções, mas não havia parado para pensar a respeito delas. Foi então que decidi ouvir algumas músicas separadamente e estas começaram a me emocionar. Foi um sentimento súbito, arrebatador, mal pude reagir. As lágrimas vieram sem que eu nem pudesse me conter.


O que acontece é que o papel da trilha sonora nessa obra é tão crucial quanto o seu trabalho visual, pois é ela quem realça todos os sentimentos abordados. Eu me emocionei escutando essas músicas, pois há sentimentos embutidos nelas. Essas composições conseguem evocar isso até quando escutadas fora do filme.

                           

A trilha sonora de Koe no Katachi é incomum. Minimalista e ambient. Delicada e sutil. Bela e abstrata. A grande maioria de suas composições são tocadas no piano, faz uso de pausas longas e incorpora ruídos como o som das teclas sendo pressionadas, passos, algo sendo raspado e ambiência de sala. Às vezes ocorrem algumas distorções, o que causa um certo desconforto. Há um ar de melancolia que permeia toda a trilha, mas também consigo sentir leves pinceladas de esperança até nos momentos de tristeza.

                           

Eu não sou músico para fazer uma análise aprofundada, então não consigo dizer o porquê dessa abordagem minimalista ser tão efetiva, mas uma coisa eu posso dizer com toda a certeza do mundo – a música desse filme te faz sentir, lá no âmago, as emoções complexas dos personagens. É uma das trilhas sonoras mais delicadas que já escutei na vida.

                           

E o nome do compositor é Kensuke Ushio, faltou dizer isso. É engraçado que, nessa entrevista, a diretora Yamada diz que o considera como um rival, que "não pode perder para ele em relação ao visual". Isso mostra a similaridade e como houve uma sinergia entre eles durante a produção do filme. O compositor e a diretora completaram um ao outro com seus respectivos trabalhos. Ambos os dois têm um senso de sensibilidade e sutileza que foi transmitido com maestria nessa obra.

O trabalho de dublagem (japonesa) do filme é ótimo, mas se há alguém que merece reconhecimento é a Saori Hayami, que deu voz à Shouko. Rapaz, que performance poderosa. Não deve ser fácil interpretar uma personagem que não sabe falar devidamente e entregar uma atuação convincente, sem parecer infantil e bobo, mas ela conseguiu com enorme êxito. Seu trabalho incrível chega a emocionar em determinados momentos, como na cena em que a personagem se desculpa à mãe do Ishida.


Para finalizar, gostaria de mostrar o trailer do próximo filme que conta com a equipe inteira de A Silent Voice, desde a diretora, até a roteirista, o compositor e o character designer. Se chama Liz to Aoi Tori (Liz e o Pássaro Azul) e já dá para perceber que será uma obra sensível e emocionante que certamente tocará os corações de inúmeras pessoas que a assistir. Por que eu incluí isso na seção ÁUDIO? Pois esse filme conta uma história com as personagens de Hibike! Euphonium, o anime que uniu o poder da música à animação esplêndida da KyoAni e nos deu a verdadeira definição de “espetáculo visual”. Análise detalhada em breve.


                           

CONCLUSÃO

Koe no Katachi é uma obra que conscientiza e emociona, tanto por sua narrativa bem conduzida quanto por seu trabalho artístico exuberante. Esse é o primeiro filme da Kyoto Animation sem ligação a uma série. Assim como li em um artigo americano, se o estúdio continuar produzindo mais trabalhos assim, com um conteúdo de encher os olhos de lágrimas tanto por seu visual encantador quanto por suas histórias focadas em personagens humanos e empáticos, a KyoAni tem tudo para alcançar uma reputação internacional similar à do Studio Ghibli – como um estúdio com animações capazes de inspirar gerações.



por Vinicius "vini64" Pires

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